segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Simonal: Protegido pela Ditadura Militar ou Uma Vítima de uma Sociedade Racista?


No auge da fama em plena ditadura militar Wilson Simonal foi amordaçado e silenciado. Não pelos militares e sim pela imprensa e por alguns de seus colegas que o acusaram de ser um “Dedo duro”, ou seja, ele estaria do lado dos militares.
Tudo isso começou depois dele ter sofrido um golpe financeiro por parte do seu contador e segundo dizem ele teria pedido a interferência da policia federal a qual o teria torturado. Raphael Viviani foi encontrado depois que a produção do filme contratou um detetive particular após quarenta anos e fala com detalhes da agressão que sofreu e também da ingenuidade do Simonal com relação ao momento político que passava o Brasil e se vangloriava em ter amigos na polícia política.
Por esse motivo ele acabou envolvido num imbróglio com a ditadura militar levando-o ao ostracismo completo e até ver seus discos tirados de circulação, as emissoras de Rádios e TVS lhe negavam a sua participação porque não havia nada pior naqueles anos de repressão do que um artista com tamanha popularidade ser visto por seus colegas como um delator e ainda mais ele que possuía alguns desafetos pelo o sucesso que era inegável e foi considerado por alguns críticos como o maior intérprete do Brasil.
Um grupo de intelectuais e artistas engajados no comunismo ou aqueles que apenas defendiam seus ideais democráticos não lhe perdoaram a “traição” e o condenaram a um verdadeiro inferno em vida longe dos palcos e do público que antes lhe amava e também lhe viravam as costas.
Simonal se tornou uma presa fácil da perseguição e não era pra menos: um “crioulinho metido” daquele, com um dos maiores contratos publicitários da época - como garoto propaganda da Shell uma representante do imperialismo americano, - e andando pra cima e pra baixo numa Mercedes branca com estofamento vermelho, em boa coisa não dã e o pessoal da esquerda liderado pelo o extinto Jornal O Pasquim caíram de pau, afinal essa pompa não era para um negro que só tinha a sua frente na época o mito Roberto Carlos. Mas apesar de quase crucificá-lo
Nada de concreto ficou provado apenas a agonia com que viveu até o fim de seus dias com esse “maldito” estigma.

Pela surra que mandou dar, Simonal foi condenado em 1972 a cinco anos e quatro meses, que pôde cumprir em liberdade. Pela fama de dedo-duro ele pagou um preço muito alto e nada ficou provado mas também nunca foi anistiado sobre seu comprometimento com a Polícia Federal.

Quando assisti o documentário “Ninguém sabe o duro que dei” de autoria do humorista Claudio Manoel (casseta & Planeta), Calvito Leal, Micael Langer eu pude ter uma idéia melhor devido a depoimentos de pessoas sérias e impaciais como: Chico Anísio, Nelson Mota, Ricardo Cravo Albin, Sérgio Cabral, Castrinho,Boni,Toni Tornado,Arthur da Távola, Luís Carlos Miéle, Paulo Moura entre outros convidados. O filme mostra com clareza que o Simonal sempre interpretou ele mesmo e pra isso ele não tinha máscara nem medo de mostrar a sua personalidade marcante que não levava desaforo pra casa nem baixava a cabeça para a classe dominante da sociedade branca e racista do Brasil que não aceitava o sucesso de um negro filho de empregada doméstica que tomava conta das paradas de sucesso brasileira e não fazia questão de esconder o fruto do seu sucesso o apogeu financeiro que vivia com carrões e lindas mulheres a sua volta.

Ele Dominava as Massas.

Além do talento e do carisma do Simonal, seus críticos mais duros tinham que conviver com a ascensão de um “crioulo” boa pinta que incomodava com o seu canto e com suas palavras quando era entrevistado e admitia que era “mascarado” sim, mas encantava multidões como fez no maracanãzinho quando o público delirou ao som de “Meu limão meu limoeiro” na ocasião em que o Sergio Mendes o convidou para uma participação especial no seu show e ele com seu carisma tomou conta do espetáculo e quase sucumbiu a atração principal, isso incomodava a muita gente, ainda mais em se tratando de um “Crioulo Marrento”. O Simona pagou caro.

Um documento datado de 1999 da Secretaria Nacional dos Direitos Humanos informando que não havia nenhuma prova de que Wilson Simonal tivesse servido a ditadura e a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) ter o reabilitado simbolicamente a maioria dos brasileiros ainda não o perdoaram.

Mas Foi Esquecido Por Elas

O Brasil que já anistiou o Fernando Collor de Mello dando-lhe como prêmio uma cadeira no senado, O Jânio Quadros que renunciou a Presidência do Brasil e levou com isso o país a um estado de ditadura e repressão, nem por isso o povo paulistano lhe negou a cadeira de prefeito que deveria ser de um ex-exilado Fernando Henrique Cardoso.
O José Sarney que foi recordista de inflação no país e já se reelegeu como senador várias vezes e está até hoje acima de qualquer suspeita embora os escândalos digam o contrário, além de centenas de políticos e trambiqueiros do Brasil.
Até o Zico que perdeu aquele pênalti na copa de 1986 já foi anistiado há muito tempo não só por rubro negros como pela maioria de brasileiros.

Agora eu pergunto: Por que só o Barbosa goleiro da copa de 1950 que sofreu aquele nefasto gol na final contra o Uruguai e o Wilson Simonal o povo se nega a anistiar em definitivo, o que tinham eles em comum? A pele negra.
O Brasil apesar de ser um país misto se pudesse pintaria a população negra de pó de arroz pra ficar tudo em brancas nuvens.

Edigarde Rodrigues