domingo, 21 de setembro de 2008

Nova Lei do Grampo: Uma nova censura ou Maior Privacidade pra quem não é Privado?


Eu acredito muito nos homens de boa vontade, mas fico sempre com o pé atrás para os falsos moralistas.
Precisamos ter muito cuidado com essa nova Lei que está pra ser apreciada pelo o Congresso Nacional e ficarmos atentos a quem vai interessar de verdade essa nova lei que protege a privacidade de alguns cidadãos.
Se for proteger os de bem será muito bem vinda, mas se for só pra coibir a ação da imprensa que quando é isenta consegue trazer para o público o que acontece nos bastidores das falcatruas, só vejo um jeito, deixar como está e claro desde que preservando o direito a privacidade dos assuntos privados e quando não for de interesse público e não prejudique investigações importantes da Policia Federal que tem feito o seu trabalho, pena que esbarra de vez em quando em "interesses" de quem não é nada privado é totalmente público até a manipulação indevida do dinheiro que também é publico.
Afinal de contas, o que essa nova lei propõe é mais uma vigília ao cidadão de bem como por exemplo a operadora ter que avisar se o pobre coitado por algum motivo atrasou o pagamento de seu telefone e ter o mesmo suspenso pela operadora ou se o trabalhador mudou de operadora.
Enquanto protege quem não devia.
Precisamos ter cuidado para o trabalho da imprensa livre não ser prejudicada por ameaças de prisão dos responsáveis se forem publicados matérias que embora sejam de interesse do público não interesse a uma cúpula que priva de direitos adquiridos dado pelo o próprio povo, isto é, que possuem cargos públicos e se julguem intocáveis.
Fica aqui a transcrição do projeto lei para a apreciação de todos:Projeto de Lei do Senado 525/07.
A quem interessa?


Muito obrigado aos que me visitam e os que deixam suas opiniões.
Edigarde Rodrigues

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Fernando Barbosa Lima "Conselhos para o neto Pedro e pra muita gente"


Quando o Boni criou o livro que recebeu o título de "50/50", Fernando Barbosa Lima foi um dos primeiros nomes lembrados para contar a sua história. Na última sexta-feira 05/09 Fernando nos deixou. Transcrevo na íntegra o depoimento de Fernando Barbosa Lima para o livro do Boni. Nesse texto ele se dirige ao Pedro, seu neto, em setembro de 2000, quando a televisão brasileira comemorava 50 anos.
"Meu caro Pedro"
Agora que você está terminando o seu curso de comunicação e pensa em fazer TV é bom eu contar duas ou três histórias. Criei mais de 100 programas de televisão.
Alguns desses programas que eu criei foram famosos. Programas como o "Preto no branco", "Jornal de vanguarda", "Abertura", "Sem censura", "Os 10 mais", "Canal livre", "Cara a cara", "Conexão internacional", "Rede Brasil", "Os editores", "Advogado do diabo", "Baleia verde", "Persona", "Os brasileiros", "Primeiro time" e muitos outros. Nos meus encontros nas universidades e escolas de Comunicação sempre me perguntam como eu comecei na TV. Comecei tendo uma idéia.
Eu tinha 22 anos e estava na casa de meus pais em Botafogo. Na TV Rio passava um programa chamado "Cruzeiro musical". Patrocinado pela empresa de aviação Cruzeiro do Sul, o programa mostrava uma orquestra que tocava uma seqüência de boleros. Foi aí que, mesmo sem nunca ter entrado numa estação de TV, eu tive a idéia: por que uma empresa nacional de aviação, voando pelo Brasil, não faria uma série de programas mostrando o Brasil aos brasileiros?
Cada programa mostraria um Estado. Por exemplo: a Bahia vista através dos textos de Jorge Amado, das músicas de Caymmi, dos desenhos do Carybé e das lendas do candomblé?
Levei a idéia para o diretor de comunicação da Cruzeiro, o brigadeiro Rocha, que eu não conhecia, e ganhei o programa. E agora? Com o aval do patrocinador fui até a TV Rio e conversei com os seus dois diretores, Cerqueira Leite e Péricles do Amaral. Na mesma hora eles apoiaram a idéia. Era um programa diferente. Como até então eu nunca tinha dirigido um programa de televisão, pedi o apoio de um bom profissional da TV Rio. Foi aí que eu encontrei o Carlos Alberto Lofler, um poeta que conhecia o olhar de uma câmera. Um profissional da mais alta excelência, uma pessoa excepcional.
O programa foi um sucesso. Mostramos quase todos os estados do Brasil. Repetimos a série na TV Record. O próximo passo, já sendo considerado um homem de televisão, foi o programa "Preto no branco". Mais uma vez eu e o Carlos Alberto revolucionamos a linguagem dos programas de TV.
"Olhe bem este rosto. Deputado Tenório Cavalcanti, o senhor vive para matar ou mata para viver?"
A incrível voz de trovão do Sargentelli estourava em todos os televisores do Rio. No dia seguinte o "Preto no branco" seria o grande assunto nos botequins, nas esquinas e nos escritórios. O "Preto no branco" era uma nova proposta na TV. O cenário, ocupando todo o fundo, era um céu azul com nuvens. Carlos Alberto teve a idéia de pintar, pela primeira vez, o chão do estúdio. Sobre um fundo cinza, linhas de fuga pretas que se abriam em diagonal dando uma idéia de profundidade.
No centro do cenário, um banquinho de bar onde o entrevistado se apoiava, de pé. As perguntas eram feitas em "off", mudando completamente o estilo das entrevistas da época, quando o entrevistador ficava ao lado do entrevistado. A única regra era não entrar na vida particular de nenhum entrevistado. O programa era ao vivo, sem nenhum corte de edição. Não existia nenhuma possibilidade de censura ou manipulação.
Foi no "Preto no branco" que nasceu o super big-close da nossa TV. Como a tela dos nossos televisores era muito pequena, o super close era uma forma de estabelecer uma intimidade visual entre o entrevistado e o público. Cada detalhe era registrado: a mão tremendo, o suor, o olhar assustado.
A minha opção profissional sempre foi pelo jornalismo. É através dele que podemos acrescentar novos conhecimentos e novas possibilidades para o nosso povo. Sem educação não existe futuro. Um caminha ao lado do outro. Daí a minha preocupação de sempre buscar caminhos novos sem fugir do jornalismo.
Logo no início da nossa televisão os telejornais eram apresentados por locutores de rádio que liam as notícias. No fundo, uma cortina. Na mesa, uma cartela com o nome do patrocinador. Na verdade, eram jornais de rádio com uma câmera de TV dentro do estúdio.
Quando criei o "Jornal de vanguarda" a mudança foi radical. Fui buscar nas redações dos jornais e revistas jornalistas que sabiam dar e comentar as notícias. Gente como João Saldanha, Villas Boas Correa, Tarcísio Hollanda, Stanislaw Ponte Preta, Maneco Muller, Appe, Gilda Muller, Ricardo Amaral, Borjalo, Newton Carlos, Reynaldo Jardim, Darwin Brandão e Ibrahim Sued. Do outro lado das câmeras, Carlos Alberto Vizeu, José Ramos Tinhorão e Ana Arruda. Fazendo a ligação entre os apresentadores estavam as vozes de Luiz Jatobá, Cid Moreira, Fernando Garcia, Célio Moreira, Jorge Sampaio e Moacir Lopes. O melhor do melhor. Era um grande show de notícias, um jornal altamente informativo e criativo, que tinha a coragem de ter opinião. Foi uma revolução na TV. Foi premiado no Brasil e internacionalmente.
Para manter o seu espírito de independência ele passou por várias emissoras: Excelsior, Tupi, Globo, Continental e acabou na TV Rio quando foi decretado o Ato Institucional n° 5 e a censura total da ditadura militar. Não existia mais clima para o "Jornal de vanguarda". Toda a equipe, em conjunto, decretou o seu fim.
Só voltei para a televisão quando a ditadura começou a falar em anistia, abertura política, volta à democracia. Novamente junto com Carlos Alberto Vizeu, da Tele Tape, e os jornalistas Mario de Moraes e Luiz Carlos de Oliveira colocamos o "Abertura" no ar.
O "Abertura" era uma grande revista em movimento. Cada apresentador editava o seu quadro. Era apresentado por Villas Boas Correa, Ziraldo, Sérgio Cabral, Glauber Rocha, João Saldanha, Newton Carlos, Antonio Callado, Célia Portela, Vivi Nabuco, Fausto Wolff, Mariza Raja Gabaglia, Tarcísio Hollanda e Roberto D'Avila.
Foi a primeira vez, ainda no final da ditadura, que se voltou a falar em política no Brasil. Petrônio Portela cumpriu a sua palavra. Eu me lembro de uma reportagem do Roberto D'Avila, o melhor entrevistador da nossa televisão, quando ele conversava em Paris, com filhos de exilados. Crianças que não conheciam o Brasil. Foi um momento de pura emoção.
No jornalismo encontrei sempre a televisão na qual eu acreditava. Mesmo quando eu fui diretor da Excelsior, da TVE, da Bandeirantes e da Manchete o jornalismo estava sempre em primeiro lugar.
Agora mesmo, com o "Primeiro time", estou mudando o velho estilo do talk-show. Hoje, se o entrevistado não é excelente, ninguém agüenta mais ficar uma hora, 15 minutos, ou até menos, diante dessa pessoa. O controle remoto é uma realidade. No "Primeiro time" junto 10 pessoas interessantes e conhecidas, completamente diferentes entre si, mas que se interligam o tempo todo. Se você não gosta do "A", certamente vai gostar do "B". É um programa de idéias e debates, informativo e divertido.
Nesse pequeno e resumido relato, você, meu caro Pedro, vai perceber que o mais importante de tudo é ter sempre novas idéias e, principalmente, paixão pela televisão, o mais forte veículo de comunicação de todos os tempos. Procure ver sempre, do outro lado dessa tela luminosa, o rosto do povo brasileiro.

P.S. Transcrito da coluna de Carlos Alberto Viseu, pra quem eu prestei serviço na sua produtora "Tele Tape".

Um abraço a todos a quem me visita, Edigarde Rodrigues

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Meu Coração está Triste.


Madrugada dessa sexta-feira quando me preparava pra dormir por volta de meia noite e meia o que pra mim normalmente ainda é cedo, estava vendo o Jornal da Globo meio sonolento e um choque me despertou: A notícia inesperada da morte de uma das figuras mais importantes da Televisão brasileira, Fernando Barbosa Lima com quem tive o prazer de trabalhar no "Canal Livre" na Band Rio, no Programa"Etc." que Ziraldo apresentava sob a sua direção e na sua passagem pela extinta TV Manchete muito embora como produtor independente onde em sociedade com Roberto D'avila e Walter Salles Junior eles produziam "Conexão Internacional" que era realizado pela Intervídeo para aquela emissora em seu auge.
Mas foi ele quem me deu a primeira oportunidade de trabalhar em produção, além da minha função de sonoplasta, quando depois de uma tentativa frustrada de abrir uma agencia de publicidade na Região dos Lagos no Rio de Janeiro com um jornalista amigo meu na época, ele me colocou na produção do Programa "Cinema Rio", que foi um dos primeiros programas numa TV pública a ter uma chancela comercial que era do Banerj.
Eu estava retornando para o Rio e o procurei na TVE onde ele era diretor geral e como não havia um lugar pra mim na sonoplastia ele sabendo que eu produzira alguns shows de alguns artistas numa iniciativa própria, ou seja, eu os contratava e produzia em clubes do Rio de Janeiro, isso no inicio dos anos 80, ele juntamente com Roberto D'vila( então vice diretor) chamaram a Vivian Perl (então coordenadora geral de produção) e me indicaram para o programa, onde eu comecei como assistente de produção e no decorrer do mesmo substitui uma produtora que havia sido remanejada para outro programa, um episódio que eu nunca vou esquecer na minha vida.
Sempre o admirei não só por esse passagem, mas por ser um dos maiores criadores de programa de sucesso em vários canais brasileiros desde da extinta TV Rio onde nos anos 60 ele produziu o famoso Jornal de Vanguarda e o programa Times Square, Sem censura, nos anos 80 esteve à frente do "Abertura", o jornalista se posicionou abertamente contra o regime militar e muitos outros além do Canal Livre que já foi apresentado pela Marília Gabriela.
Pena que a memória cultural do brasileiro é muito curta mas não precisa ir muito longe pra saber quem foi Fernando Barbosa Lima é só conhecer um pouco da história da Televisão no Brasil que ele faz parte integral dela.
Perdemos um profissional brilhante e um ser Humano cheio de Luz.
Vou ter que tirá-lo das minhas referências em meu currículo.
O meu coração está de luto, arrastei a minha tristeza da cama e sem maquiá-la vim mostrar a vocês que me visitam e são meus amigos.
Vá em Paz meu amigo Fernando.